sábado, 24 de setembro de 2011

2 – ELEMENTOS GERAIS DO UNIVERSO


17. Pode o homem conhecer o princípio das coisas?
— Não. Deus não permite que tudo seja revelado ao homem, aqui na Terra.
18.0 homem penetrará um dia o mistério das coisas que lhe estão ocultas?
— O véu se ergue na medida em que ele se depura; mas, para a compreensão de certas coisas, necessita de faculdades que ainda não possui.
19.0 homem não poderá, pelas investigações da Ciência, penetrar alguns dos segredos da Natureza?
—A Ciência lhe foi dada para o seu adiantamento em todos os sentidos, mas ele não pode ultrapassar os limites fixados por Deus.
Comentário de Kardec: Quanto mais é permitido ao homem penetrar nesses mistérios, maior deve ser a sua admiração pelo poder e a sabedoria do Criador. Mas, seja por orgulho, seja por fraqueza sua própria inteligência o torna frequentemente joguete da ilusão. Ele acumula sistemas sobre sistemas, e cada dia que passa mostra quantos erros tomou por verdades e quantas verdades repeliu como erros. São outras tantas decepções para o seu orgulho.
20. Pode o homem receber, fora das investigações da Ciência, comunicações de uma ordem mais elevada sobre aquilo que escapa ao testemunho dos sentidos?
— Sim, se Deus o julgar útil, pode revelar-lhe aquilo que a Ciência não consegue apreender.
Comentário de Kardec: É através dessas comunicações que o homem recebe, dentro de certos limites o conhecimento de seu passado e do seu destino futuro.

domingo, 18 de setembro de 2011

I – Deus e O Infinito


1. O que é Deus?
— Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas(1)
2. O que devemos entender por infinito?
— Aquilo que não tem começo nem fim; o desconhecido; todo o desconhecido é infinito(2).
3. Poderíamos dizer que Deus é o infinito?
— Definição incompleta. Pobreza da linguagem dos homens, insuficiente para definir as coisas que estão além de suas inteligência.
comentário de Kardec: Deus é infinito nas suas perfeições, mas o finito é uma abstração; dizer que Deus é o infinito é tomar o atributo de uma coisa por ela mesma, definir uma coisa ainda não conhecida, por outra que também não o é.

Prolegômenos

                        prolegomeno.jpg
Fenômenos que escapam às leis da ciência comum manifestam-se por toda parte. E revelam como causa a ação de uma vontade livre e inteligente.
A razão nos diz que um efeito inteligente deve ter como causa uma força inteligente. E os latos provaram que essa força pode entrar em comunicação com os homens através de sinais materiais.
Essa Força, interrogada sobre sua natureza, declarou pertencer ao mundo dos seres espirituais que se despojaram do envoltório corporal do homem. Desta maneira é que foi revelada a Doutrina dos Espíritos.
As comunicações entre o mundo espírita e o mundo corpóreo pertencem à Natureza e não constituem nenhum talo sobrenatural. É por isso que encontramos os seus traços entre todos os povos e cm todas as épocas. Hoje elas são gerais e evidentes por todo o mundo.
Os Espíritos anunciam que os tempos marcados pela Providência para uma manifestação universal estão chegados c que, sendo os ministros de Deus e os agentes da sua vontade, cabe-lhes a missão de instruir e esclarecer os homens, abrindo uma nova era para a regeneração da Humanidade.
Este livro é o compêndio dos seus ensinamentos. Foi escrito por ordem e sob ditado dos Espíritos superiores para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, livre dos prejuízos do espírito de sistema. Nada contém que não seja a expressão de seu pensamento e não tenha sofrido o seu controle. A ordem e a distribuição metódica das matérias assim como as notas e a forma de algumas partes da redação constituem a única obra daquele que recebeu a missão de o publicar.
No número dos Espíritos que concorreram para a realização desta obra, há muitos que viveram em diferentes épocas na Terra, onde pregaram e praticaram a virtude e a sabedoria. Outros não pertencem, por seus nomes, a nenhum personagem de que a História tenha guardado a memória, mas a sua elevação é atestada pela pureza de sua doutrina e pela união com os que trazem nomes venerados.
Eis os termos em que nos deram, por escrito e por meio de muitos médiuns, a missão de escrever este livro:
“Ocupa-te, com zelo e perseverança, do trabalho que empreendeste com o nosso concurso, porque esse trabalho é nosso. Nele pusemos as bases do novo edifício que se eleva e um dia deverá reunir todos os homens num mesmo sentimento de amor e caridade; mas, antes de o divulgares, revê-lo-emos juntos afim de controlar todos os detalhes.
“Estaremos contigo sempre que o pedires, para te ajudar nos demais trabalhos, porque esta não é mais do que uma parte da missão que te foi confiada e que um de nós já te revelou.
“Entre os ensinamentos que te são dados, há alguns que deves guardar somente para ti, até nova ordem; avisaremos quando chegar o momento de os publicar. Enquanto isso, medita-os, a fim de estares pronto quando te avisarmos.
“Porás no cabeçalho do livro o ramo de parreira que te desenhamos porque é ele o emblema do trabalho do Criador(1). Todos os princípios materiais que podem melhor representar o corpo e o Espírito nele se encontram reunidos: o corpo é o ramo; o Espírito é a seiva; a alma ou o espírito ligado à matéria é o bago. O homem quintessência o Espírito pelo trabalho e tu sabes que não é senão pelo trabalho do corpo que o espírito adquire conhecimentos.
“Não te deixes desencorajar pela crítica. Encontrarás contraditares encarniçados, sobretudo entre as pessoas interessadas em trapaças. Encontrá-los-ás mesmo entre os Espíritos, pois aqueles que não são completamente desmaterializados procuram, muitas vezes, semeara duvida, por malícia ou por ignorância. Mas prossegue sempre; crê em Deus e marcha confiante: aqui estaremos para te sustentar e aproxima-se o tempo em que a verdade brilhará por toda parte.

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

XVII – Preenchendo Os Espaços Vazios


O ceticismo no tocante à Doutrina Espírita, quando não resulta de uma oposição sistemática, interesseira, provém quase sempre de um conhecimento incompleto dos fatos, o que não impede algumas pessoas de liquidarem a questão como se a conhecessem perfeitamente. Pode-se ter muito espírito e até mesmo muita instrução e não se ter bom senso; ora, o primeiro indício da falta de senso é a crença na própria infalibilidade. Muitas pessoas também não vêem nas manifestações espíritas mais que um motivo de curiosidade. Esperamos que, pela leitura deste livro, encontrem nesses fenômenos estranhos alguma coisa além de um simples passatempo.
A Ciência Espírita contém duas partes: uma experimental, sobre as manifestações em geral, outra filosófica, sobre as manifestações inteligentes. Quem não tiver observado senão a primeira estará na posição daquele que só conhece a Física pelas experiências recreativas, sem haver penetrado na Ciência. A verdadeira Doutrina Espírita está no ensinamento dado pelos Espíritos, e os conhecimentos que esse ensinamento encerra são muito sérios para serem adquiridos por outro modo que não por um estudo profundo e continuado, feito no silêncio e no recolhimento. Mesmo porque só nestas condições pode ser observado um número infinito de fatos e suas nuanças, que escapam ao observador e que permitem firmar-se uma opinião.
Se este livro não tivesse por fim mais do que mostrar o lado sério da questão, provocando estudos a respeito, isto já seria bastante e nos felicitaríamos por ter sido escolhido para realizar uma obra sobre a qual não pretendemos ter nenhum mérito pessoal, pois os princípios aqui expostos não são de nossa criação; o mérito é, portanto, inteiramente dos Espíritos que o ditaram. Esperamos que ele tenha outro resultado, — o de guiar os homens desejosos de se esclarecerem, mostrando-lhes nestes estudos um objetivo grande e sublime, o do progresso individual e social, e indicando-lhes o caminho a seguir para a sua consecução.
Concluiremos com uma derradeira consideração. Os astrônomos, sondando os espaços, encontraram na distribuição dos corpos celestes, lacunas injustificáveis e em desacordo com as leis do conjunto. Suspeitaram que essas lacunas deviam corresponder a corpos que haviam escapado às observações. Por outro lado, observaram certos efeitos cuja causa lhes era desconhecida e disseram a si mesmos: “Ali deve haver um mundo, porque essa lacuna não pode existir e esses efeitos devem ter uma causa”. Julgando então da causa pelos efeitos, puderam calcular os elementos e mais tarde os fatos vieram justificar as suas previsões.
Apliquemos este raciocínio a outra ordem de idéias. Se observarmos a série dos seres, perceberemos que eles formam uma cadeia sem solução de continuidade, desde a matéria bruta até o homem mais inteligente. Mas entre o homem e Deus, que são o alfa e o ômega de todas as coisas, que imensa lacuna! Será razoável pensar que seja o homem o último anel dessa cadeia? Que ele transponha, sem transição, a distância que o separa do infinito? A razão nos diz que entre o homem e Deus deve haver outros elos, como disseram os astrônomos que entre os mundos conhecidos devia haver outros mundos. Qual a filosofia que preencheu essa lacuna? O Espiritismo no-la apresenta preenchida pelos seres de todas as categorias do mundo invisível, e esses seres não são mais que os Espíritos dos homens nos diferentes graus que conduzem à perfeição. E assim tudo se liga, tudo se encadeia, do alfa ao ômega. Vós que negais a existência dos Espíritos, preenchei o vazio que eles ocupam. E vós, que deles rides, ousai rir das obras de Deus e da sua onipotência!

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

XVI – A Teoria Magnética E Do Meio Ambiente



Resta-nos examinar duas objeções: as únicas que realmente merecem esse nome porque se apóiam em teorias racionais. Uma e outra admitem a realidade de todos os fenômenos materiais e morais, mas excluem a intervenção dos Espíritos.
Para a primeira dessas teorias, todas as manifestações atribuídas aos Espíritos seriam apenas efeitos magnéticos. Os médiuns ficariam num estado que se poderia chamar de sonambulismo acordado, fenômeno conhecido de todos os que estudaram o magnetismo. Nesse estado, as faculdades intelectuais adquirem um desenvolvimento anormal, os círculos da percepção intuitiva se ampliam além dos limites de nossa percepção ordinária. Dessa maneira o médium tiraria de si mesmo e por efeito de sua lucidez tudo quanto diz e todas as noções que transmite, mesmo sobre as coisas que lhe sejam mais estranhas no estado normal.
Não seremos nós quem contestará o poder do sonambulismo, cujos prodígios presenciamos, estudando-lhe todas as facetas durante mais de trinta e cinco anos. Concordamos que, de fato, muitas manifestações espíritas podem ser explicadas por esse meio. Mas uma observação prolongada e atenta mostra uma multidão de fatos em que a participação do médium, a não ser como um instrumento passivo, é materialmente impossível. Aos que participam desta opinião, diremos como já dissemos aos outros: “Vede e observai, porque seguramente ainda não vistes tudo”.
E a seguir lhes apresentaremos duas considerações tiradas de sua própria doutrina. De onde veio a teoria espírita? É um sistema imaginado por alguns homens para explicar os fatos? De maneira alguma. Mas, então, quem a revelou? Precisamente esses médiuns de que exaltais a lucidez. Se, portanto, essa lucidez é tal como a supondes, por que teriam eles atribuído aos Espíritos aquilo que teriam tirado de si mesmos? Como teriam dado esses ensinamentos tão precisos, tão lógicos, tão sublimes sobre a natureza das inteligências extra-humanas? De duas, uma: ou eles são lúcidos ou não são. Se o são e se podemos confiar na sua veracidade, não se poderia admitir sem contradição que não estejam com verdade. Em segundo lugar, se todos os fenômenos provêm do médium, deviam ser idênticos para um mesmo indivíduo e não se veria a mesma pessoa falar linguagens diferentes, nem exprimir alternadamente as coisas mais contraditórias. Essa falta de unidade nas manifestações de um mesmo médium prova a diversidade das fontes. Se, pois, não podemos encontrá-las todas no médium, é necessário procurá-las fora dele.
Segundo a outra teoria, o médium é ainda a fonte das manifestações, mas, em vez de tirá-las de si mesmo, tira-as do meio ambiente. O médium seria uma espécie de espelho refletindo todas as idéias, todos os pensamentos e todos os conhecimentos das pessoas que o cercam; nada diria que não fosse conhecido pelo menos de algumas delas. Não se poderia negar, e vai mesmo nisto um princípio da doutrina, a influência exercida pêlos assistentes sobre a natureza das manifestações. Mas essa influência é bem diversa do que se pretende e, entre ela e a que faria do médium um eco dos pensamentos alheios, há grande distância, pois milhares de fatos demonstram peremptoriamente o contrário. Há, portanto, um erro grave nessa teoria, que mais uma vez prova o perigo das conclusões prematuras. Essas pessoas, incapazes de negar a existência de um fenômeno que a ciência comum não consegue explicar, e não querendo admitir a intervenção dos Espíritos, explicam-no a seu modo. A teoria que sustentam seria sedutora, se pudesse abarcar todos os fatos, mas assim não acontece. E quando se demonstra, até à evidência, que algumas comunicações do médium são completamente estranhas aos pensamentos, aos conhecimentos, às próprias opiniões de todos os presentes, e que essas comunicações são muitas vezes espontâneas e contradizem as idéias preconcebidas, elas não se entregam por tão pouco. A irradiação, respondem, amplia-se muito além do círculo imediato que nos cerca; o médium é o reflexo de toda a Humanidade e dessa maneira, se não encontra as inspirações ao seu redor, vai procurá-las fora, na cidade, no país, no mundo inteiro e até mesmo em outras esferas.
Não creio que esta teoria encerre uma explicação mais simples e mais provável que a do Espiritismo, pois supõe uma causa bem mais maravilhosa. A idéia de que seres do espaço, em contacto permanente conosco, nos comuniquem os seus pensamentos, nada tem que choque mais a razão do que a suposição dessas irradiações universais, vindas de todos os pontos do Universo para se concentrarem no cérebro de um indivíduo.
Diremos ainda uma vez — e este é o ponto capital, sobre o qual nunca será demais insistir, — que a teoria sonambúlica e a que se poderia chamar reflectiva foram imaginadas por alguns homens; são opiniões individuais, formuladas para explicar um fato, enquanto a doutrina dos Espíritos não é uma concepção humana; foi ditada pelas próprias inteligências que se manifestam, quando ninguém a imaginava e a opinião geral até mesmo a repelia. Ora, perguntamos, onde os médiuns foram buscar uma doutrina que não existia no pensamento de ninguém sobre a Terra? Perguntamos ainda por que estranha coincidência milhares de médiuns, espalhados por todas as partes do globo, sem nunca se terem visto, concordaram em dizer a mesma coisa? Se o primeiro médium que apareceu na França sofreu a influência de opiniões já aceitas na América, por que estranha razão foi ele buscar as suas idéias a duas mil léguas além-mar, no seio de um povo estranho por seus costumes e sua língua, em vez de tomar o que estava ao seu redor?
Mas há ainda uma circunstância em que não se pensou bastante. As primeiras manifestações, em França como na América, não se verificaram nem pela escrita, nem pela palavra, mas através de pancadas correspondentes às letras do alfabeto, formando palavras e frases. Foi por esse meio que as inteligências manifestantes declararam ser Espíritos. Se, portanto, pudéssemos suporá intervenção do pensamento do médium nas comunicações verbais ou escritas, o mesmo não se poderia fazer com relação às pancadas, cuja significação não poderia ser conhecida previamente.
Poderíamos citar numerosos fatos que demonstram na inteligência manifestante uma individualidade evidente e uma absoluta independência de vontade. Enviaremos, portanto, os nossos contraditores a uma observação mais atenta, e se eles quiserem estudar bem, sem prevenções, nada concluindo antes de terem visto o necessário, reconhecerão a importância de suas teorias para explicar todos os fatos. Limitar-nos-emos a propor as seguintes questões: Por que a inteligência que se manifesta, qualquer que seja, recusa-se a responder a algumas perguntas sobre assuntos perfeitamente conhecidos, como, por exemplo, o nome e a idade do interrogante, o que ele traz na mão, o que fez na véspera, o que pretende fazer amanhã e assim por diante? Se o médium é o espelho dos pensamentos dos presentes, nada lhe seria mais fácil de responder.
Os adversários respondem a esse argumento perguntando, por sua vez, por que os Espíritos, que tudo devem saber, não podem dizer coisas tão simples, segundo o axioma: “Quem pode o mais, pode o menos”. E disso concluem que não se trata de Espíritos. Se um ignorante ou um brincalhão, apresentando-se perante uma douta assembléia, perguntasse, por exemplo, por que se faz dia pleno ao meio-dia, seria crível que ela se desse ao trabalho de responder seriamente e seria lógico concluir, do seu silêncio ou das zombarias que dirigisse ao interpelante, que seus membros eram tolos? Ora, é precisamente por serem superiores que os Espíritos não respondem a perguntas ociosas ou ridículas, não querem entrar na berlinda; é por isso que eles se calam ou dizem que só se ocupam de coisas mais sérias.
Perguntaremos, afinal, por que os Espíritos vêm e vão, muitas vezes, num dado momento, e por que, passando esse momento, não há nem preces nem súplicas que os façam voltar? Se o médium não agisse senão pela impulsão mental dos assistentes, é claro que, nessa circunstância, o concurso de todas as vontades reunidas deveria estimular a sua clarividência. Se, entretanto, ele não cede aos desejos da assembléia, apoiado pela sua própria vontade, é porque obedece a uma influência estranha, tanto a ele quanto aos demais, e essa influência demonstra com isso a sua independência e a sua individualidade.